Quando Grão Mestre Kobi chegou ao Brasil em 1990, ninguém tinha ouvido falar sobre Krav Maga. As pessoas nem conseguiam falar; “Krav, o que?!?” E agora faz parte do enredo de uma novela em horário nobre; quem diria!
O nome da novela é “Terra e Paixão”, que passa na TV Globo, após o Jornal Nacional, nove e pouco da noite.O tema retrata disputa de terras, fracos enfrentando fortes, fortes sempre achando que fracos não tem vez, e por aí vai. E claro, com muitas tramas e dramas familiares, românticos e tudo com sentimentos que retratam a palavra “Paixão” do nome da novela. Ainda tem um toque de humor, onde o núcleo que envolve uma academia de Krav Maga trata de assuntos sérios de forma sutil e divertida, passando o recado, levantando questões, mexendo com o telespectador, hora inspirando, hora causando espanto e repulsa, mas sempre provocando reações, o que é esperado de uma novela. Uma obra de Walcyr Carrasco, renomado e premiado autor, que conta com elenco de primeira. Estamos muitíssimos honrados por terem nos procurado como referência no assunto. Muito felizes de terem incluído o Krav Maga em um programa de grande audiência, em horário nobre. E muito satisfeitos com a forma que está sendo trabalhado na novela até agora. Não temos controle sobre o que vai rolar, não escrevemos a novela. Mas estamos dando assessoria. Três atores tiveram algumas aulas na sede da Federação em Botafogo, Rio de Janeiro, e se encantaram com a eficiência da técnica do Krav Maga. Muitos conceitos têm sido trabalhados desde os primeiros capítulos. “Krav Maga tem regras, não é circo não!”, é a fala do Odilon, personagem de um professor de Krav Maga em uma localidade no estado do Mato Grosso do Sul, interpretado pelo ator Jonathan Azevedo. Alguns alunos até questionaram sobre o assunto “regras”, confundindo situação de agressão real, quando não há regras para defender a vida, e as regras de convívio e respeito que tanto pregamos no tatame e fora dele. Uma atividade como a nossa, que trata defesas e ataques, agressividade e controle, e tudo relacionado ao universo da defesa pessoal, há regras sim, e muita disciplina. Regras para entrar e sair do tatame, regras didáticas em aula, regras de aparência, regras de educação e regras de segurança nos treinos. São muitas as cenas onde vimos nossas ideias implantadas. Foi mostrado um prato como objeto comum para defesa, quando a personagem Anely, interpretado pela atriz Tatá Werneck, foi intimidada. Um personagem violento da trama, chegou falando, “Agora estamos só nós dois!” e a Anely responde; “Não! Somos você, eu e esse prato!” Isso é Krav Maga. Mostrado de forma bem-humorada, e mais ainda, mostrado em uma situação muito comum no cotidiano. O personagem principal, Caio, interpretado por Cauâ Reymond, falou como se sentiu bem e feliz por ter tido coragem de reagir, e não mais só aceitar ser subjugado pelo pai. Falamos sobre “reação” de forma mais profunda, de novo o conceito sendo trabalhado. Isso é Krav Maga. A personagem Lucinda, interpretado pela atriz Debora Falabela, uma mulher bem sucedida profissionalmente, mas que sofre violência doméstica e morre de medo do marido, que diz que não quer esperar ser agredida de novo, quer aprender a se defender! Isso é Krav Maga. Tomara que milhões de mulheres que são vítimas de violência doméstica se inspirem na personagem e reajam, saiam da posição de vítima, que entendam que não são sexo frágil um saco de pancadas. Muitos quando ouvem sobre violência contra mulher, pensam na Lei Maria da Penha, na polícia, em denúncia, ou até em um herói para salvar a donzela indefesa. Mas a melhor solução é que a mulher não se veja como alguém indefesa, mas que busque uma solução para viver a vida em segurança, com dignidade, com respeito. Krav Maga é dar essa opção. O machismo, que sim, impera no país, está sendo discutido, porque é fato que a maioria das pessoas acham que Krav Maga não é atividade para mulher. E mais, em um capítulo, o professor Odilon chega a desencorajar a personagem Lucinda de começar a treinar, dizendo, “Tem certeza? Nas aulas só tem homens, fedorentos e casca grossa”, que de fato é o que muitas pessoas pensam. E isso tudo é espetacular, levantar questões! Uma oportunidade sem igual, trazer a discussão à tona, desmistificar tudo isso. O filho de Lucinda, Cristian, personagem do ator mirim Felipe Melquiades, é um menino doce que sofre bullying na escola, por ser albino. Ainda não rolou, mas estamos na torcida que o personagem reaja, inspirando tantas crianças no país afora, que sofrem com o pré-conceito. Em uma cena que foi ao ar há poucos dias, dois personagens começam a rolar no chão em uma briga, e em algum momento, um deles se toca do que estão fazendo e diz algo como, “Parecemos dois bobos, brigando!” E estende a mão para o outro, finalizando a briga. Civilidade é isso, e é muito bom ver que há incluída na trama, uma preocupação de mostrar lado bom dos problemas nas relações. A novela está levando conceitos para milhões de brasileiros, que nunca pensaram em ter coragem em aprender a se defender. Krav Maga é dar possibilidades. Vamos levar isso ao máximo de pessoas possível. No programa de domingo da Globo, Caldeirão, Debora Falabela dá o recado: “Eu acho que todas as mulheres deveriam aprender Krav Maga. É autodefesa.” Vamos ver o que os próximos capítulos reservam… “Terra e Paixão”. Krav Maga é Paixão. Mas isso é tema para um outro artigo…